sábado, 18 de junho de 2011

Dono ou cuidador?

Gosto sempe de afirmar que nós nunca "somos", nós sempre "estamos", não somos tristes ou alegres, nós estamos tristes em determinados momentos e alegres em outros. Se fossemos estáveis, a espécie humana não seria tão genial. Guimarães Rosa expressa bem isso que sinto em Grande Sertão: Veredas, quando diz:

“O senhor… mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.“

Se nunca somos, então não posso concordar com a afirmativa de algumas pessoas que se julgam donos de cães, gatos, ou qualquer outro animal. Não somos nem donos de objetos, não tenho um carro...eu uso um carro...imagine um animal, a idéia de ter é impossível e perversa.
Refleti muito sobre isso na última chuva forte. A única possibilidade de escoamento de água do quintal ficou entupida e tudo virou um grande lago...e diga-se de passagem que um lago para um golden retriever é algo bem atraente...rsrsrsrs....pronto a festa estava armada, com todos os ingredientes necessários: um golden jovem e um lago.


Em um primeiro momento minha limitação humana me deixou irritado com a Amélie. Puxa vida, tinha tomado banho em um pet shop fazia pouquíssimo tempo, estava limpa, cheirosa e escovada...mas pulou e nadou no lago do quintal!!!! ahhhhhhhhhhh aqueles pelos dourados não permanecem secos em tempos de chuva...e o que eu faço com isso?
A priori a idéia foi fazer com que ela me obedecesse e nunca mais brincasse na chuva...brincar? isso!!! a resposta correta se baseia nisso...ela estava brincando na água, afinal a senhorita Poulain é uma retriever e o fato de gostar de água foi uma característica selecionada durante o desenvolvimento da raça. Não é justo privá-la dessa brincadeira (ou quem sabe necessidade). Foi durante essa reflexão que cheguei a conclusão de que eu não sou pai e muito menos dono da Amélie...o pai dela é o Boy e excursiona pelo mundo como um ótimo reprodutor e ela não tem dono.
Meu papel é cuidar desse animal, proporcionar alimentação adequada, exercício, cuidados veterinários, educação e em especial carinho e brincadeiras...a única coisa que posso afirmar que possuo é a retribuição de tudo isso...

Eu amo cuidar de cães, amo saber que a Senhorita Poulain adora pular na água e também amo saber que ela está sempre disposta a me dar carinho e a ajudar outras pessoas. A palavra "dono" me remete a sensação de controle absoluto, falta de liberdade e egoismo. Mas o que mais me deixa apaixonado pela relação homem/animal, é saber que existem muitos cuidadores que salvam diariamente a vida de cães e outros animais, como meus primos e amigos do Pet Shop Brasil Animal que estão cuidando de forma brilhante de dois cães que foram atropelados em frente ao estabelecimento comercial...outro caso recente de cuidado com um animal, aconteceu essa semana na Faculdade Anhanguera Educacional de Limeira, quando um gatinho entrou em um cano e não conseguia sair...dois bombeiros prontamente se mobilizaram assim que foram avisados e foram até lá para salvar o bichinho...ninguém quis ser "dono" do animal, mas uma aluna escolheu ser a cuidadora e levou - a agora batizada de Clarice - para casa...isso é "ser humano"
Talvez se Guimarães Rosa falasse dos cães, falaria de forma diferente....com um pouco de atenção e direcionamento, os cães vivem sempre afinados...

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